Bem, esse post só foi possível graças à uma extensa pesquisa. Vou falar da vida no Japão. De uma forma indireta, claro, pois eu nunca pisei em solo japonês... Ainda. Não pretendo morar no país, mas sim visitá-lo.
Primeira coisa que você precisa saber antes de continuar: deixe de lado os animes. Sim, tem muito fã de anime e mangá no Japão, mas falo isso porque se você quiser ir para lá SÓ por causa disso, então você vai se dar mal. Segundo, pesquise muito antes de fazer as malas. Um país diferente, de cultura e costumes diferentes no mínimo precisa ser estudado. E terceiro, se você não tem descendência japonesa, não é casado com um descendente de japonês, ou não tem parentes lá, esqueça, você não poderá morar lá permanentemente, embora possa por um pouco tempo com um trabalho temporário (lá chamado de arubaito) se você tiver mais de dezesseis anos, com autorização do Departamento de Imigração. Agora, continuemos.
A maioridade penal no Japão é de 21 anos. Isso significa que você só vai poder beber, fumar e dirigir a partir dessa idade. À respeito da criminalidade, o indivíduo pode ser julgado a partir dos 14 anos. Por falar em dirigir, carteiras de habilitação brasileiras não têm validade lá, seja para carros ou motos. O que deve ser feito é um teste em escrito (que está disponível em português), e é lógico que se você não tiver, você tem que tirar a japonesa, cujos testes em escrito estão na língua japonesa. Quando você estiver dirigindo, dê preferência ao pedestre. Não dirija em alta velocidade, pois isso pode oferecer riscos às pessoas de fora.
Você pode tirar diferentes tipos de visto. Se o seu visto for só para lazer, por exemplo, não é permitido a você exercer atividade remunerada. Quando você entrar no Japão, tem até três meses para pedir um registro de estrangeiro na prefeitura da cidade onde irá residir, caso você queira de fato morar no país. A propósito, a prefeitura oferece apartamentos (bem pequenos, por sinal) para os residentes. Há conta de luz, água e telefone, é claro.
Planta de um apartamento japonês de baixo custo |
Você deve sempre carregar seu registro de estrangeiro ou passaporte, mesmo que você queira ir à padaria da esquina. Autoridades policiais sabem de longe se uma pessoa é nativa ou não, nem precisando conversar com ela. Se você não apresentar tais documentos quando pedidos, pode haver encrencas.
Dedique-se a aprender o japonês. Não que os nihonjin não saibam falar inglês, mas eles interpretam esse idioma do jeito deles. Até se você quiser trabalhar no McDonald's você precisa ter noção do japonês. A propósito, os lanches lá são um pouco diferentes, mas nada muito "nossa, isso parece de outro planeta".
Se você não tiver parentes no Japão ou não for casado, você ficará sozinho por um bom tempo. Infelizmente, alguns japoneses ainda são preconceituosos com brasileiros, achando que vão sujar a cidade e os costumes deles. O que não acontece tanto em cidades onde há vários brazucas morando, tipo Nagoya, Saitama e Shizuoka, mas que ainda sim tem uma pontinha.
Alguns brasileiros não gostaram da experiência de morar no Japão, simplesmente por não terem se acostumado. Há os que se acostumam, claro, mas é muito ruim, psicologicamente falando, ficar longe de casa por muito tempo. Você será uma pessoa diferente no que diz respeito aos hábitos. De início, você pode odiar, e depois amar, e depois odiar novamente. O Japão é um país muito legal e rico, mas não é perfeito. A mesma coisa com o Brasil. Há pessoas que querem voltar para lá mais e mais vezes, e pessoas que nunca mais querem voltar.
Para trabalhar no Japão, você precisa ser convidado ou contratado. Quando o contrato de trabalho acaba, você volta ao Brasil. Se você quiser trabalhar e estudar ao mesmo tempo, com um visto de estudante, o trabalho não pode exceder 30 horas semanais. Tal visto é válido por um ano, mas pode ser renovado por mais dois.
Se você quiser ter um animal de estimação, ele precisa ser registrado. Isso acontece pelo fato de o Japão ser um país formado por ilhas, e quando animais se juntam em ilhas podem se tornar uma "praga". Quando você compra um bichinho, ele vem com um certificado de responsabilidade e um chip implantado nele, com as informações do animal e do dono, para eventuais perdas. É possível ao dono pagar um seguro anual, pois caso ele dê problemas graves à terceiros, o seguro cobrirá os danos. Saiba que o espaço para animais em apartamento é muito pequeno, como você pode ver na planta acima.
Você usará mais trem e bicicleta do que carro. Para ir ao trabalho ou à escola, por exemplo. Carros são mais utilizados para ir de uma cidade a outra. Caso queira dirigir um carro, você deve renovar sua carteira de ano em ano. E caso você venha a cometer uma infração, o policial lhe chamará para conversar, dando uma lição de como se comportar bem no trânsito. Além disso, há dois tipos de adesivo que é obrigatório colocar no carro em caso de pessoa novata ou idosa.
O primeiro adesivo é para indicar que você é novato, inexperiente. O segundo é para mostrar que o motorista é idoso |
Fique atento às placas de carro: as amarelas são de carros populares e mais "compactos", as brancas são de carros maiores e mais caros. E estacionamentos também são caros, afinal o Japão é um país com vários lugares pequenos, e nesses, espaços são valiosos. Você não vai ficar livre dos pedágios, pois algumas rodovias são privatizadas, igual aqui no Brasil. E sempre, sempre dê preferência ao pedestre, mesmo se o sinal estiver vermelho para eles. A mão do volante é o modelo inglês (direita). Você é proibido de tentar ultrapassar outros carros na faixa da esquerda, apenas na da direita. Aqui no Brasil as mãos são contrárias, mas também é proibido (ou pelo menos deveria ser).
Moedas são muito utilizadas no Japão, até mais que as cédulas. O Yen tem a mesma importância, seja em moeda ou em cédula. Uma coisa interessante é que cada centavo conta. As lojas de R$1,99 daqui lá são chamadas de hiyaku en shoppu (100Y shopping), e se você por acaso comprar algo que falte míseros centavos, a caixa vai te dar o troco, nem que seja uma moeda de 1 Yen. Algumas lojas preferem que você faça os pagamentos à vista, não aceitando cartão de crédito (mas a maioria dos estabelecimentos aceitam). O sistema de débito por lá não existe, ou pelo menos é bem raro. Bancos fornecem um chip que deve ser colocado ao celular, e esse chip é lido por máquinas nas lojas. Uma boa alternativa quando não se tem um cartão de crédito. No Japão não há barganha. O preço dito é o preço pago. A não ser que o dono da loja queira perder dinheiro, e disso ninguém gosta.
Já que citei os celulares aí em cima, os estrangeiros devem saber de uma coisa: desbloqueio é crime. Isso mesmo. Celulares da companhia telefônica X só podem receber o chip X. Você não pode enviar SMS de um celular com operadora X para a Y, mas você pode mandar e-mails para números de operadora diferente. Entretanto, existe uma versão de Whatsapp, e isso é totalmente legal.
Ah! E é quase uma regra você visitar livrarias. Japoneses tem um hábito muito grande de leitura, por isso as bibliotecas costumam ser lotadas e livros vendem como água (isso inclui mangás). Você vê crianças lendo, adultos lendo, idosos lendo, seja na praça, no ônibus, no trem...
Uma loja especializada na venda de CD's, DVD's e livros |
Voltando ao assunto das casas, descontinuado lá em cima, existe dois tipos de apartamentos: apatos e manshons. O primeiro, de alto custo, é ideal para famílias grandes. O segundo, é para quem mora sozinho e tem um baixo custo. O de alto custo é muito espaçoso, e o segundo não tanto. Os pisos das casas mais novas são de azulejo mesmo, não de tatami. Um apartamentozinho igual a foto da planta lá em cima pode ter um aluguel de quase 30.000 Yen, o que corresponde a quase R$600 aqui no Brasil, mais ou menos. A cotação não é tão certa: ela funciona mais de Yen pra Dólar do que de Yen pra Real. Então, se você quiser um apartamento, você tem que se contentar com o que está disponível.
Bem, é só isso, acredito. Deve haver muito mais coisas, é lógico, mas se eu morasse de fato no Japão eu conseguiria falar mais coisas. Em suma: morar no Japão não é fácil, mas também não é difícil. Há preconceito de alguns japoneses, e aceitação de outros. Você vai ficar longe de casa por um bom tempo, então todo preparo psicológico é pouco. Dias passarão como anos. Mas pode ser uma experiência maravilhosa, assim como uma experiência não tão boa. Cabe a você tentar!
Uma última coisa: Se você não tiver certeza absoluta de que quer visitar ou morar no Japão, não se conformou com as coisas que descobriu por meio de pesquisas ou contatos que moram lá, ou simplesmente tem medo de ir para o país, aconselho que continue morando no Brasil. Não vale a pena largar algo que você está muito bem acostumado por algo que você não sabe como vai ser. Animes passam na TV sim, no horário da tarde para a noite, mas te garanto que assistir anime é algo que os estrangeiros menos farão na sua estadia na terra do Sol Nascente.
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